domingo, abril 23, 2006

Outro domingo 3.

O céu claro sem nuvens
reflete as bombásticas recordações da semana de sempre
na TV duas louras rebolam a bunda no nariz de uma dupla de anões
a amiga afunda o pé no acelerador com elegância
no closet um casal brinca de roleta russa
enquanto as nuvens pintadas no muro do cemitério passam tão rápido

Um domingo de sol é uma espada a separar passado e futuro
abismo e abismo esfíncter e esfinge lama e mel
o dia divino uma ponte pênsil entre zero e um
as mãos do xamã vibraram ao te servir la chacrona
e ainda que o time da infância ganhe de três a zero
o sol afundará teus olhos pra dentro

I gonna take you higher é o refrão que ritmas no abismo duplo
com os mesmos dedos com que desbastas a carcaça de um caranguejo
porém nenhuma fome se extingue sob o verão meridiano
pois domingo é o mais cruel dos dias
as raízes do sol se enterram no húmus da memória
e o que sobrou da semana passada senão um brechó sem estilo
e o que será da próxima senão adiamentos de bandeiras negras

Que doce agrado seria o mar vis à vis
sem cismar em sismos sem buzinas nem sinos de igrejas bêbadas
ou celulares pedindo tua atenção para o cheiro de carne queimada
o mais vil desse abismo é ser bis
o mergulho incessante sem sair do lugar
como um domingo insolente por indeciso

– o vento demais azul do final de tarde é só mais um truque

1 Comments:

Blogger Feliz said...

às vezes, mas só às vezes, acho que os domingos não existem. não podem existir. abraço.

10:03 AM  

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