sexta-feira, outubro 13, 2006

Pisando em uvas

Às seis da manhã você me chama
volta pra cama vai deixa disso
Da janela vejo um cara pisar em latas
como quem pisa em uvas ou ovos
peão da Roma antiga Sísifo-de-obra
Alcanço outra taça outro cara passa
atira latas pro catador de alumínios
que se abaixa e pega pisa e guarda
Fecha essa janela você só reclama
uma concubina romana Messalina
a me espremer olhos bagos miolos
oh nós otários sectários de Dioniso
Vou e venho cato minhas sobras
me reciclo a ti em trigo daí cismo
de pular no cama feito menino
você ri só que logo se dobra destroço
pés que esmagam seios você escama
ossos estalam vísceras trituradas meu
leito vindima de leite e sangue e
dos olhos te bebo um límpido vinho

domingo, outubro 08, 2006

Este poema se autodestruirá

O reino da Dinamarca fica tão longe
o cheiro de podre não chegará aqui
meu filho constrói castelos de Lego
devo, não nego, pago quando puder
as saudades que invento de Londrina
a oitocentos quilômetros da retina
se sente mais o fogo de um escorpião

I think I made you up inside my head
King Jong Il brinca no mar de big bang
e eu que nunca fui fã de Nara Leão
cismei de ouvir bossanova e levitar
enquanto meu filho destrói castelos
King Jong Il aperta o botão da bomba
e Nara manda notas safadas do Paraná

Nuvens de metal escurecem o horizonte
e as peças do Lego logo se tornam
versos de um poema que vou explodir
41.279 graus norte, 129.087 graus leste

Mas mesmo que a bomba norte-coreana
devaste nosso reinozinho dinamarquês
e pulverize toda a saudade que tenho
nada importará à ácida garoa daqui

Neste domingo de Lego e Sylvia Plath
só quero recriar o perfume de Londrina
Les Paradis Artificiels na cama estreita
I shut my eyes and all the world drops dead.